2006-07-03
NÓS & A COLECÇÃO RAU
http://www.mnarteantiga-ipmuseus.pt/
Como tínhamos tempo, fomos tomar 1 café nos próprios jardins do museu e garanto-vos que para além da boa e amena cavaqueira, a vista sobre o rio Tejo era rasgada e o ambiente acabou por se revelar extraordinário. Aliás as fotos aí tiradas mostram mesmo isso... :)
À hora marcada (11:25) recebíamos os nossos crachás e entravamos finalmente no espaço destinado à exposição. Logo em destaque à entrada estava «Retrato de Uma Jovem» de BERNARDINO LUINI, que é a capa da exposição. Mas a nossa guia fez questão de começar mesmo pelo príncipio e como o tema é «Grandes Mestres da Pintura: De FRA ANGELICO a BONNARD" foi por FRA ANGELICO que se começou. Aqui foi-nos explicado os conceitos de pintura no período de transição da Idade Média para o Renascimento.
Passámos então para as escolas renascentistas italiana, francesa e alemã (1 LUCAS CRANACH) e com 1 EL GRECO à mistura, onde se falou dos já nossos conhecidos chiaro-oscuro e sfumato (ambas técnicas desenvolvidas pelo LEONARDO DA VINCI, que não estava representado em nenhum quadro da colecção).
Na sala seguinte percebeu-se perfeitamente (até pela disposição bipolar das telas) da dicotomia entre catolocismo/escola italiana e protestantismo/escolas flamenga e holandesa. Falou-se imenso de CARAVAGGIO que, infelizmente, também não está representado na colecção. Tivémos que nos contentar com um RIBERA. Deu perfeitamente para perceber o abismo entre o sacro dos italianos (alimentado pelo dinheiro de Roma e da Igreja católica) e o mundano da Europa do Norte. Nascem no norte da Europa pela primeira vez as paisagens, os retratos e as guerras como temas na pintura. Os quadros reduzem substancialmente na sua dimensão... Bom, o facto é que os nobres protestantes (os únicos com dinheiro para comprar arte) não queriam saber nada de santos e os quadros eram para pôr mesmo lá em casa!
Passámos muito rapidamente pelo maneirismo e pelo rococó, deitando um olho à escola holandesa do séc. XVII, porque defronte já nos aguçava o olhar a bela paleta de um CANALETTO. Vão-me perdoar mas apesar de adorar este pintor (sempre adorei este período italiano do séc. XVIII, e exemplo disso é a minha admiração pelos GUARDI da colecção CALOUSTE GULBENKIAN) a minha atenção virou-se para um seu discipulo - o seu sobrinho BERNARDO BELLOTTO - que eu (mesmo apesar de qualquer copyright) me arrisco a apresentar neste espaço.
A partir daqui rumámos para o retrato nas escolas francesa e inglesa. Neste ponto as nossas opiniões divergem. Enquanto que a Ana, a Maria Luísa e a Isabel Monteiro preferem o traço livre do FRAGONNARD, eu fiquei caídinho pelo REYNOLDS. Bom, se calhar este quadro não é um dos melhores do REYNOLDS mas tem a sua alma lá toda. E percebo perfeitamente porque é que a modernidade da pincelada do FRAGONARD é tão apelativa nos finais do séc. XVIII. É 1 verdadeiro momento de viragem em que as grandes escolas desaparecem e começa a surgir a individualidade do artista!
A partir daqui entrámos a ritmo acelerado no séc. XIX e nos primórdios do Impressionismo (a guia falava com tanta emoção que o tempo passava e havia ainda muito para ver): COROT (que quebra com a pintura em atelier!) e CÉZANNE (que convive com todo o movimento impressionista). Mais 1 vez arrisco o copyright para fazer chegar até vocês esta beleza deste último mestre (que para expor em Paris só teve dísponivel o infâme Salon des Refusés)!
O Impressionismo propriamente dito fica retratado em 6 magníficos MONET que atravessam alguns períodos do artista! MANET, DEGAS, RENOIR, PISSARO e SYSLEY são outras presenças neste período.
Alguns movimentos da modernidade do séc. XX são encontrados na última sala: o simbolismo (REDON), o pontilhismo (SIGNAC), os Nabis (DENIS), os fauvistas (VLAMINCK) e o expressionismo alemão (MACKE e MANÉ-KATZ), entre outros. E alguns trabalhos individuais apontam os caminhos desenvolvidos por GIORGIO MORANDI e BONNARD (que fecha a colecção).
Quando acabou tivémos que voltar a percorrer toda a galeria em sentido inverso para admirar + 1 vez as obras expostas. Digamos que saímos pelo mesmo sítio que entrámos, eheheheh!
Quando saímos, fiquei com a impressão de ter acabado de absorver um bom livro de História da Arte, condensado em pouco mais de uma hora e quarenta e cinco minutos... Na loja improvisada que o MNAA tinha instalada à saída (têm que começar a aprender com o que se faz lá fora em termos de marketing), não resistimos a alargar os cordões à bolsa para comprar o catálogo da exposição. :)
Sabendo de antemão que o Dr. Rau possui toda a sua colecção de cerca de 800 quadros depositados nos bancos de Zurique, que a exposição itinerante de cerca de 100 quadros irá a leilão daqui a cerca de 20 anos com o objectivo de os fundos reverterem a favor da UNICEF, que a doação do actual Museu de Arte Contemporânea à cidade de Marselha teve como único fim a manutenção da actividade do seu hospital no Ruanda, que teve o cuidado de também escolher artistas femininos de todas as épocas para figurar nesta colecção... não pudemos ficar indiferentes a esta (excelente) visita a 95 obras ímpares!
Como o estomâgo já dava horas ficámos, com a excepção da Isabel Monteiro, mesmo ali pelo restaurante Art'Antiga nas Janelas Verdes. A conversa (que é sempre óptima) e a comida (que também estava óptima) obrigaram-nos a ficar por aquelas bandas mais algum tempo.
Até breve!
p.s. Possivelmente 1 regresso à colecção permanente do MNAA, com uma reserva prévia de visita guiada, vai acabar por se impor! Temos que nos deixar do meu «amadorismo» e recorrer aos verdadeiros profissionais! :)
Etiquetas: Exposições
Fiquei muito contente por vocês e muito "triste" por não poder acompanhá-los.
A ver se para a próxima não me escapam.
Até 5ª e quero saber mais pormenores.
Até amanhã para mais uma tão ansiada aula de pintura...
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