2006-08-11

 

GOMBRICH #02

A arte tal como a conhecemos não nasceu nem em Lascaux nem em Altamira... A nossa arte não descende desses ocres nem dessas dedadas. Não, senhor! Podemos dizer que nós aprendemos com os Gregos... mas os Gregos não nasceram ensinados (caiam na real!) e já tinham ido à escola no Egipto! De lintel para lintel e de pincél para pincél a nossa arte descende daquilo que de melhor se fez desde há 5.000 anos nas 2 margens do Nilo... Descende de 1 povo que, em uníssono, construía pirâmides no tempo de vida de 1 faraó com o único fito de preservar a vida eterna. E para que o regresso à eternidade estivesse garantido necessitava de representações realistas do deus na terra! Nasce a palavra «escultor» que em egípcio antigo quer dizer «Aquele-Que-Mantem-Vivo».

A escultura egípcia encerra 2 verdades: uma geometrização de feições (idêntica à arte primitiva dos maoris onde se desprezam os pormenores) e uma aproximação cuidada à realidade natural (idêntica aos retratos naturalistas da arte negra na Nigéria). E é por se balancear entre estes 2 pólos que os bustos da 4ª dinastia (da altura do tempo em que se construiram as pirâmides) nos parecem vivos mas remotos!








E em tempos remotos, os farós eram enterrados com os seus servos, que eram sacrificados. A sociedade egípcia, confrontada com estes horrores e com estes custos, evoluiu no sentido de substituir os séquitos por representações do séquito. Não se trata de arte para ser apreciada e observada (o único que a poderia observar - o faró - estava bem morto no seu sarcófago). Nascem assim os baixo-relevos e a pintura.


O conceito dos egípcios ao desenhar era o de colocar tudo na imagem mas de acordo com um ângulo previamente definido. Cada objecto era desenhado de acordo com essas regras fixas. Uma paisagem tornava-se um mapa. Uma cabeça é sempre desenhada de perfil. Mas o olho aparece de frente. Os ombros de frente mas os pés de lado. Estes pés eram sempre vistos de fora. Os deuses são sempre maiores do que os faraós, estes são sempre maiores do que os vizires e estes são sempre maiores do que os felahs. Etc, etc,etc. O conjunto destas regras chama-se «estilo» egípcio. Todavia tudo está perfeito e com harmonia. Se fizermos 1 cópia à mão... não fica mesmo nada bem. Eles desenhavam 1º umas linhas horizontais paralelas e inscreviam depois as figuras cautelosamente entre essas linhas.



Todavia o artista não podia mudar 1 virgula ao «estilo». Aliás, embora as modas mudassem, os grandes artistas não alteravam mesmo nada ao estilo. Isto durou quase 3.000 anos. Exactamente tudo igual durante quase 3.000 anos é mesmo muito tempo... Mas houve uma excepção! Amen-hotep IV, o unico faraó considerado 1 herege, mudou tudo. Mudou de nome (Akh-en-Aton), de capital (Tell-el-Armana), de religião (deixou Amon-Rá e todos os outros deuses para acreditar no deus único - Aton)... E foi casado com a mulher mais bonita de todo o Egipto: Nefertiti. Todo o país deve ter ficado escandalisado: a rainha tinha a mesma importância do faraó, a representação das brincadeiras com as filhas não são dignificantes, os seus retratos mostram-no como 1 homem feio, etc, etc. Rapidamente desapareceu e colocaram no seu lugar um puto de 9 anos: Tut-Ank-Amon... este toda a gente conhece...



Como é que 3.000 anos de regularidade são perturbados desta maneira? Provavelmente Akenaton terá tido contacto com culturas do Mediterrâneo com estilos menos rigídos. A civilização minóica de Creta poderá ter sido uma delas. Quem já viu fotografias do palácio de Cnossos não pode deixar de ficar indiferente à elegância daquelas colunas vermelhas e daqueles frescos!


As civilizações do vale entre o Tigre e o Eufrates já não são tão conhecidas, e isto talvez por 2 razões totalmente acidentais. Em primeiro lugar não havia na Mesopotâmia vastas pedreiras como no Nilo e o barro, que foi largamente usado, não é tão duradouro. Em segundo lugar, estas civilizações não eram tão orientadas para a eternidade e por isso não deixaram tantos túmulos como os faraós. Todavia foi aqui que se inventou a escrita cuneiforme, as leis de Hamurabi e que Assurbanipal II da Assíria (séc. IX a.C.) se batalha em Nimrud. Já nessa altura se escondia o n.º de baixas assírias e só se mostravam as baixas do inimigo... :)




To be continued: não percam já na próxima edição a maravilhosa receita para colar cacos e assim enriquecer o vosso ethos.






Etiquetas:


Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?