2006-09-02

 

EU & MADRID (2ª Parte)

Ao sair da Galeria da exposição do PICASSO fiquei no meio do Prado... sem mapa... sem orientação... e com minha fraca (diga-se fraquíssima) memória de anteriores visitas (2 pelo menos) não tinha ideia de onde estava. O meu relato de hoje não dá fé das inúmeras voltas e contra-voltas, das subidas e descidas. Mas dá fé de algo muito importante: no Prado pode-se tirar fotos sem flash!!! Poderia encher 1 ano de posts só à custa do Prado... eheheheh! Imaginem o meu sorriso...

MUSEO DEL PRADO - A colecção permanente

1. Escola Espanhola (1100 - 1850)

Não é de admirar que os pintores espanhóis sejam 1 presença forte no Prado! Muita coisa poderia mostrar mas ilustro, para começar e a título de exemplo, esta escola com o último quadro («A leiteira de Bourdeaux» de cerca de 1625/7) de Francisco José de GOYA, e cuja aplicação da tinta parece antecipar os impressionistas... Que mais dizer de GOYA? A maior colecção de quadros (mais de 100) deste pintor encontra-se neste museu. O último andar é (quase) totalmente dedicado às pinturas que fez para o Palácio Real de Madrid. Depois temos o seu lado negro, carregado de sombras e de traços ameaçadores nas suas pinturas murais da Quinta del Sordo. Conta-se que foi só após a descoberta destas imagens pelos críticos que GOYA atingiu o merecido mérito. Na minha opinião pessoal estas são do melhor que eu já vi!

Que dizer de 1 José de RIBERA (filho de 1 sapateiro) que já tivemos prazer de admirar na exposição RAU no MNAA (cfr. post de 2006-07-03) e cujo traço se aproxima tanto de CARAVAGGIO? De 1 Bartolomé E. MURILLO (filho de 1 barbeiro)? Claro que ainda há Francisco de ZURBARÁN (filho de comerciantes extremenhos), António de PEREDA (quadro de «São Jerónimo» ao lado pintado em 1643), Alonso CANO, Francisco RIZI, Frei Juan B. MAYNO, Francisco de HERRERA «EL MOZO»... Que interessante verificar que a maior parte destes grandes mestres têm as origens bastante humildes, sem famílias com tradição na arte... Imagino o esforço, a dedicação e a casmurrice que se teria que ter naqueles dias para perseguir 1 sonho...

Não posso deixar passar uma referência gráfica à obra (acabadinha de restaurar!) da «Adoração dos Pastores» de Domenicos Theotocopoulos, dito EL GRECO! Isto é que é modernidade!!! Quem viu a pintura do «Funeral do Conde de Orgáz» na igreja de São Tomé em Toledo, sabe do que falo! Aliás, Toledo possui ainda o Museu El Greco. Recordo que 1 dos seus quadros («São Domingos em Oração) estava na exposição RAU (cfr. mesmo post atrás referido). Sei que o pintor veio de Creta (com 1 passagem por Veneza?) para Espanha com o intuito de pintar no El Escorial. Parece que as coisas não correram bem: a corte espanhola não entendia a sua forma de pintar... Só na nobreza toledana, altamente intelectual e apaixonada, ele encontrou o ambiente necessário para continuar a pintar. Nunca saiu da cepa torta até morrer e o reconhecimento público póstumo só viria a surgir pela mão de VELÁSQUEZ!


O que me leva imediatamente a falar deste pintor! Foi o pintor favorito da corte espanhola, o grande Diego VELÁSQUEZ da Silva... Uma das referências gráficas deste pintor é as «Meninas», que já mencionei no post de 2006-08-28. Que torna este quadro tão especial, ao ponto do PICASSO perder meses a estudá-lo? A importância do pintor (que demonstra que pintar também é parar para reflectir) relativamente aos reis (que só surgem na tela por via da sua reflexão no espelho). A cena quase parece 1 fotografia tirada num dado momento. Dizem que é o expoente máximo do barroco. Todavia, eu coloco aqui uma outra obra onde a hiper-retratada (das «Meninas» e doutros quadros) surge já com uns anitos a mais («Rainha Mariana de Àustria» de cerca de 1652/3).

2. Escola Francesa (1600 - 1800)

Alguma pintura francesa... só a título de exemplo temos Nicolas POUSSIN, Claude Gellée, dito CLAUDE LORRAINE (ao lado, quadro de 1637/1639 «Embarque de Santa Paula Romana em Óstia»), Georges LA TOUR e Jean-Antoine WATTEAU.






3. Escolas Flamengas e Holandesas (1430 - 1700)

Da pintura da velha Flandres consta uma enorme colecção de obras barrocas do Pieter Paul RUBENS (chamo a vossa atenção para um pormenor da «Oferta a Vénus» na imagem do lado). Também surgem algumas tela do Anthony Van DYCK e de Jan BRUEGHEL, dito o Velho. São todos quadros exemplares!






Depois ficamos ainda com os pintores da escola holandesa... O Rogier van der WEYDEN e o Pieter BRUEGHEL são sempre referências mas... eu tenho aquela paixão por Hieronymus van Aeken, dito BOSCH. E o Prado surpreende imenso pelo nº de quadros deste pintor (pelo menos 5!). E dentre deles... o melhor quadro de todos: «O Jardim das Delícias». Não quero menosprezar o nosso tríptico «As Tentações de Santo Antão» do MNAA em Lisboa mas aqueles morangos todos tornam este tríptico do Prado fascinante! Há quem acredite que as visões gráficas apontam para ligações com a seita Adamista que alastrou pela Europa no decurso da Idade Média.


4. Escola Alemã (1450 - 1800)

É 1 colecção pequena mas de alta qualidade. A título de exemplo temos Albrecht DÜRER (um dos fantásticos auto-retratos está neste museu) e Lucas CRANACH (que já vimos na exposição RAU). O quadro ao lado é deste último.







5. Escola Italiana (1300 - 1800)

Da Renascença temos Fra Giovanni da Fiesole, dito FRA ANGELICO (mostro 1 pormenor da excelente «Anunciação» de 1430, vinda de Fiesole a troco do pagamento da reparação de 1 torre sineira! Muito melhor do que o quadro que vimos na colecção RAU) e Alessandro Filipepi, dito BOTTICELLI (bom, para ver bons BOTTICELLI tem-se mesmo que perder umas horas na fila de entrada na Galleria degli Uffizi em Florença), entre outros. Temos quadros de Raffaello Sanzio, dito RAFAEL, e da autoria da sua oficina, de TIEPOLO, de BRONZINO e de PARMIGINIANO (o pintor que esticava os pescoços das Madonas). De Vezena estão muito bem representados Jacopo da Ponte, dito BASSANO, Jacopo Robusti, dito TINTORETTO e VERONESE.

E não faltam TIZIANO e Michelangelo Merisi, dito CARAVAGGIO. Este último, pintor da escola napolitana, tinha 1 feitio mesmo bera (teve que fugir de Roma por causa de 1 assassínio) mas foi 1 marco no panorama italiano com o seu realismo tenebroso. Foi também o mestre do espanhol RIBERA. O quadro «David e Golias» data de 1599/1600.






6. Escultura

De tudo 1 pouco. 1 pouco de Grécia (desde o kouros do período arcaico até ao período helenístico). 1 pouco de Roma (bustos, estátuas e grupos). 1 pouco do que se fez em Itália entre os séculos XVI e XIX.






7. Artes Decorativas

Não é o ponto forte do museu mas... tem 1 sala dedicada exclusivamente ao «Tesouro Dauphin».

8. Desenhos e Gravuras

É 1 parte que não é muito visível no museu. Só por intermédio de exposições temporais. E desta vez estava lá o PICASSO! Sei que tem 1 grande colecção de (cerca de 500) desenhos de GOYA.



(as aventuras madrilenas continuam num futuro post)

Etiquetas: ,


Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?