100 anos (de 520 a 420 a.C.) foi o espaço de tempo que levou a desabrochar a verdadeira liberdade artística. Na Grécia, embora os artistas continuassem a ser menosprezados por serem considerados artesãos, o facto é que alguns cidadãos começaram a apreciar os artistas e a sua arte, sem ser pelas suas razões simbólicas ou religiosas. Começaram as diferentes escolas a criar diferentes estilos. E a competir entre si criaram os mais belos trabalhos conhecidos. Os estilos arquitectónicos evoluiram, do dórico passou-se para o jónico (com colunas encimadas pelas volutas de carneiro) e mais tarde para o coríntio (muito + elaboradas). Pouco tempo após a morte de Thíbias, Atenas envolveu-se numa guerra sangrenta com Esparta (que viria a destruir as 2 cidades e toda a civilização grega). Num dos curtos períodos de paz foram criados os mais belos frisos nos edificios da acrópole. Os artistas em vez de suarem as estopinhas para encaixar as figuras nos sítios mostram a habilidade e segurança adquirida.
Praxiteles foi reconhecido pela sua obra-prima «Vénus a entrar no banho»... que entretanto desapareceu e ninguém conhece. O que se conhece são estátuas de mármore (cópias dos originais em bronze?) que talvez sejam da sua autoria. «Hermes com o pequeno Dionísio» é 1 dos seus mais belos trabalhos. O que é inegável é o quanto se distanciou a escultura grega num mero espaço de 200 anos (cfr. anterior post de 22 de Agosto). Todavia a escola egípcia ainda continua a revelar-se. As esculturas, cheias de 1 vida e 1 movimento que até aí não tinham, continuam agarradas aos canônes das dimensões. As estátuas gregas não tiveram ninguém por modelo, não se deu o caso de pegar nas coisas boas e deixar de fora as coisas más. As estátuas gregas são representações da beleza perfeita. Só que nessa representação, a cada toque do cinzel, a cada raspadela do buril e a cada entalhamento do formão sopram na estátua (de pedra, de bronze e de madeira) a vida e o movimento.
Um dos exemplos + conhecidos deste período de ouro é a Vénus de Milo (chamada assim por ter sido encontrada na ilha de Melos). Ela deve ser apreciada de perfil e não de frente (como mostra a fotografia). Os seus (desaparecidos) braços dirigem-se a Cupido (seu filho e de Marte, daí o arco e flecha, eheheheh). Ora, a lição que se tira é que os gregos eram tão bons a representar a beleza perfeita que foram totalmente incapazes de pensar (pelo menos até ao séc. IV d.C) em representar o mais comum-dos-mortais! Que perda para a história não se terem lembrado de fazer retratos... Os retratos que nós conhecemos desses períodos anteriores não são retratos de escultores, nem de filósofos, nem de generais... São retratos idealizados de escultores, de filósofos e de generais...
Ainda mais impressionante é que todo o esforço do escultor se dirige para o corpo, esquecendo simplesmente o rosto. A expressão do rosto é algo que os gregos fogem a 7 pés porque... a introdução de qualquer expressão (por + insignificante que fosse) distorceria a idealidade desejada! Só com Alexandre, o Grande (Pella, 356 a.C. - Babilónia, 323 a.C.) se começa a procura da representação da natureza. Mesmo assim, como não existe termo de comparação, este busto expressivo de Alexandre atribuído a Lysippus pode ser 1 deificação do homem.
A evolução da arte num império, do tamanho do que Alexandre deixou, foi 1 verdadeira revolução. Quando se fala neste período, fala-se não em arte grega mas em arte helenística. Cidades como Alexandria no Egipto, Antióquia na Síria e Pérgamo na Àsia Menor desenvolveram estilos próprios devido às diferentes exigências que colocavam aos seus artífices. É nesta época que nasce a coluna coríntia já referida no 1º parágrafo.
Um dos maiores exemplos da sofisticação da arte helénica encontra-se no altar de Pérgamo (160 a.C.) que pode ser visitado em Berlim. Eu já lá estive e é arrasador... A mitológica batalha entre os Deuses e os Titãs enche o espaço. As figuras em baixo-relevo parecem saltar para fora da parede. Aliás, parecem não precisar do apoio de nenhuma parede! Algumas delas caem para fora do friso e apoiam-se na escadaria do altar!!! Apesar de ter sido 1 dos momentos altos em Berlim, que pena eu não ter podido apreciar (condignamente) aquela visita... :(
Alguns dos trabalhos do período helénico final só foram apreciados séculos mais tarde. Quando se (re)descobriu em 1506 o grupo Laocoön a comunidade artística da época ficou sem palavras! Conta o mito da Eneida (Virgílio, cc 1 a.C.) que o troiano Laocoön e 2 dos seus filhos foram sufocados por 2 serpentes que surgiram do mar. Os deuses do Olimpo teriam intervido para que o alerta, relativo ao estratagema do cavalo imaginado por Ulisses, não fosse dado aos seus companheiros troianos. O escultor, ao ter concluído a sua obra, não devia estar muito preocupado com o (infeliz) destino e o (horrível) sofrimento das figuras. Talvez até se começasse a gostar de mostrar a violência daqueles dias em que os míticos fundadores de Roma tinham abandonado a sua Tróia. A arte acabava de começar a perder a sua ligação com a magia e a religião...
Foi nestes tempos que as pessoas começaram a comprar arte. E se não conseguiam obter 1 original mandavam fazer 1 cópia (foi desta maneira que nós conhecemos algumas esculturas). E os escritores começaram a escrever sobre os artistas. E os artistas mais famosos, dentre todos os artistas famosos, eram os pintores... Destes nós conhecemos de nome as obras mas não as obras em si. Mas em 79 a.C. Pompeia foi engolida por 1 mar de cinza resultante de 1 violenta erupção vulcânica do Vesúvio. Toda a cidade desapareceu até ser escavada. E este é 1 sítio onde se podem ver algumas pinturas (frescos) daquele período. Não são pinturas famosas... Não se trata dos grandes mestres da pintura helénica... Trata-se do «Art et Decoration» daqueles tempos... :) Para 1 cidadezinha do interior, Pompeia revela expressões de rostos (faunos), figuras graciosamente em movimento, naturezas mortas (2 limões com 1 copo de água), representações realistas de animais e até paisagens! Pode-se dizer que as paisagens são a invenção da arte helénica! Até aí a paisagem na arte oriental só servia para enquadrar as figuras humanas. Todavia teremos que esperar ainda mais 1.000 anos para descobrir as leis da perspectiva...
To be continued: Traga os seus míudos ao circo e ganhe 1 bilhete para as catacumbas. Nova temporada com animais selvagens, gladiadores e mercados de escravos!
Etiquetas: História da Arte
# posted by ArtByJoão @ 9:50:00 da tarde
