2007-03-07
Diário de um Pincel - I
Antes de começar a contar-vos os meus devaneios, vou começar por apresentar-me:- Sou um pincel macio, misto de pelo de esquilo e marta e ADORO misturar tintas com óleo mineral. As minhas pinceladas são suaves e a base predilecta para a minha criatividade, é uma porcelana branca vidrada.
Por falar em pintar porcelana, recentemente lançaram-me o desafio de perpetuar a emoção contida neste rostinho de anjo através desta fotografia. Aceitei o desafio e vou mostrar-vos como o executei, em 4 etapas :
1. EtapaComecei por escolher uma placa de porcelana 40 x 30 cm e desenhar o rosto. Apliquei quase uniformemente, uma cor carne rosada à excepção dos pontos de luz mais intensa (nariz, testa, pálpebras e mão).
Ainda com a mesma cor mais concentrada, acentuei os contornos do nariz, sobrancelhas e orelhas. Nos olhos, sombreei o globo ocular com um azul cinza, a íris com um castanho amarelado e preservei os pontos de luz branca. Para a base do cabelo, usei ocre e amarelo limão e nas riscas da t-shirt um rosa claro. Para o fundo, imaginei asas de borboleta, com tonalidades de amarelo limão e ovo.
Dei por terminada esta etapa com uma “queima”, um processo que consiste em levar a peça a um forno próprio denominado “Mufla”, onde a tinta é incorporada no vidrado da porcelana quando a temperatura atinge os 800 ºC. O tempo de “queima” são 3 horas, acrescidas de mais 6 para arrefecimento.
2. EtapaA placa saiu da mufla. As cores ficaram transparentes e as definições do rosto estão correctas. É hora de insuflar a “alma” neste esboço. Começo por desenhar as asas do fundo e a destaca-las com amarelo ovo e vermelho tijolo. Volto para o rosto, onde acentuo os contrastes das maçãs, as linhas limites da face e do pescoço. Passo aos lábios, são o meu quebra-cabeças para conseguir a tonalidade correcta. Na etapa anterior apliquei um rosa bem suave. Descobri que se os cobrir agora com a mesma cor das maças do rosto, obtenho um efeito bem natural, e claro ... sem esquecer os pontos de luz, responsáveis pelo efeito 3D. Nos olhos, escureço a pupila e a linha limite da íris e volto a queimar, desta vez a 780 ºC.
3. Etapa
Reparem... é como uma maquilhagem. Os pormenores vão-se acentuando e ganhando dimensão. Retoco a linha limite da íris e faço aparecer as pestanas. Nas sobrancelhas, aplico uma sombra ligeiramente mais escura que a cor da pele e o efeito do “pelo”... consigo-o retirando a tinta com o meu cabo (pincel). Deixei o cabelo quase para o final. Para o executar, abro um pouco as minhas cerdas e faço o movimento das madeixas. O segredo é começar da base da cabeça para cima. Assim, a madeixa que vamos fazendo vai sempre por cima da anterior, obtendo-se o efeito "movimento". Termino esta fase com pequenos retoques de cor e volto a queimar a 780 ºC. 
4. Etapa
É na fase final que aplico as sombras negras ou azul escuro, que não gosto de misturar nas cores ainda por secar. Por ex., na t-shirt, na separação entre o rosto e o pescoço e na sombra junto ao dedo mindinho.
É com este toque de magia que dou por terminada a minha maratona de pinceladas... isto é, se a minha mestra não se lembrar de acrescentar mais algum detalhe de última hora.
Podem ir espreitar mais trabalhos dela em www.noemia-travassos.com
Fiquei mesmo muito impressionado. Uma coisa foi ter tido a oportunidade de conhecer a sua mão mestra no atelier. Outra coisa é ver o seu trabalho sem largar 1 pêlo que seja! Acredito que apesar desse tratamento brutal a que é sujeito (cerdas totalmente abertas, cabo virado ao contrário, e sei lá que mais) a mão mestra o estima muito e lhe dá o necessário repouso temperador entre queimas.
Fiquei com desejo de conhecer mais da sua vida e estarei atento a estas manifestações da sua versatilidade!
Até breve!
Está lindo o trabalho.
Bj
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